O Sinpro-Rio realizou nos dias 7 e 8 de novembro, na Academia Brasileira de Letras, o seminário “Os Trabalhadores na Literatura Brasileira”. O evento teve como objetivo discutir o lugar do trabalhador na sociedade; de que forma nossa produção literária expressa o trabalho e o trabalhador brasileiro; quais os perfis dos trabalhadores ilustrados na literatura; e que desafios a contemporaneidade traz para a literatura brasileira.

Confira o que aconteceu no primeiro dia do Seminário

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O segundo dia do seminário teve início com a mesa-redonda “Trabalho, resistência, existência”, mediada por Tania Clemente, doutora em Linguística/UFRJ; que contou com a presença das palestrantes Cristina Prates, doutora em Literatura Brasileira/UFRJ, Regina Lucia Ribeiro Tavares, mestra em Educação/Cefet e Georgina Martins, escritora.

Cristina Prates falou sobre a “Lírica Brasileira e a Resistência Social”, vinculando literatura e sociologia, identificando a escrita como arma para entender a identidade nacional. Cristina fez a leitura e análise de alguns contos e poemas que têm trabalhadores como personagens principais, como “Acalanto do Seringueiro” de Mário de Andrade; “Camelots” e “Meninos Carvoeiros” de Manuel Bandeira e “A morte do Leiteiro” de Carlos Drummond de Andrade.

“Das ruas ao texto literário” foi o tema da palestra de Regina Lucia, que contou ter iniciado suas pesquisas a partir de participação nos movimentos grevistas da década de 80 e, enquanto professora de Literatura, “quis levar aos meus alunos essa conscientização da força sindical”. Regina citou e comentou a respeito de livros, poemas, contos ou personagens da literatura que de alguma maneira são engajados nas causas sociais, como o Fabiano de “Vidas Secas” (de Graciliano Ramos), “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”; e ainda “Primeira Lição” de Lêdo Ivo, “Operário em Construção” de Vinícius de Moraes; e encerrou com “Para os que virão” de Thiago de Mello “para passar uma mensagem-tarefa aos educadores para largarem o individualismo e contribuírem com a coletividade”.

Georgina Martins teve como temática o “Trabalho infantil em cena” e começou falando das histórias do período medieval nas quais s crianças eram tratadas como adultos e serviam de contrapeso à banalidade do cotidiano como “Cinderela”, que passou a trabalhar depois que o pai casou. A escritora citou “João e Maria”, o “Pequeno Polegar” e “Chapeuzinho Vermelho”, histórias que também têm crianças expostas à crueldade do período. Na literatura brasileira, Georgina citou o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, de Monteiro Lobato, que, segundo ela, “apresenta uma infância romantizada, já que não mostra em nenhum momento o trabalho infantil da época e ainda existente na realidade do Brasil”. A escritora encerrou lendo trechos, que emocionaram a platéia presente, de seu livro “Ave do Paraíso” que conta a história de uma menina que mora no interior do Rio de Janeiro na época da II Guerra Mundial.

Após o término das exposições iniciou-se um debate muito construtivo que falou sobre índios, crianças e o papel dos professores na tomada de consciência de seus alunos. Também foi discutido a literatura social que hoje surge do próprio trabalhador, os “raps”, que trazem uma nova literatura, em forma de protesto, sem o conhecimento da norma culta.

Na volta para a parte da tarde, Italo Moriconi, professor e escritor, atualmente diretor da Editora Uerj, mediou a mesa composta por Alexandre Fortes, doutor em História pela Unicamp e professor de História Contemporânea/UFRRJ ; e Zenir Reis, professor de Literatura Brasileira na FFLCH/USP; que teve como tema: “Trabalhadores, Literatura, História”.

Alexandre Fortes falou sobre “Trabalho e Trabalhadores no Brasil: Diálogos entre a Fotografia e a Literatura”, onde apresentou a exposição “Trabalho e Trabalhadores no Brasil” da Fundação Getúlio Vargas, da qual foi um dos curadores. As fotografias se dividiam em três temas: Construindo um País; Mundos do Trabalho; e Trabalho e Cidadania; e apresentavam o trabalho no porto, no cafezal, em construções, infantil, alfaiates, a migração, os bondes e paus-de-arara transportando os trabalhadores, as atividades sindicais, as greves; todas permeadas por trechos de poemas, contos ou músicas que tratavam do trabalhador, como “Operário em Construção” de Vinícius de Moraes e “O bonde de São Januário” de Wilson Batista e Ataulfo Alves; além de depoimentos de trabalhadores desde a década de 30 até os dias atuais.

“O Trabalho do Capital: São Bernardo, de Graciliano Ramos (1934)” foi o tema da apresentação de Zenir Reis, que analisou a personagem Paulo Honório e sua angústia de adquirir tudo e, o que ele não consegue, ele compra, como jornalista, juiz, advogado e professor. Para a personagem, trabalhadores podem ser alugados e assalariados sob seus próprios interesses. “É uma idéia bastante complicada porque estamos lidando não exatamente com um trabalho braçal mas com um trabalho de produção de consciência que, na perspectiva de Paulo Honório é uma mercadoria como qualquer outra”, avaliou Zenir.

Ao final das palestras, abriu-se para o último debate, que mais uma vez contou com uma participação muito produtiva dos presentes e deu conta de temas como anistia, recordação de músicas e citações que tratam de trabalhadores e fotografia jornalística. O presidente do Sinpro-Rio, Wanderley Quêdo, encerrou o evento agradecendo a todos pela presença e desculpando-se pelo curto tempo que se revelou ao final, já que a organização não imaginou que os temas se desdobrariam em tantas discussões; e concluiu avaliando que “para uma primeira aventura do Sindicato na literatura, a participação de todos, palestrantes e platéia, fez do seminário um sucesso”.

Leia alguns depoimentos sobre o evento.


Palavras-chave: Fundação Getúlio Vargas

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Este post foi publicado em 01/01/2008 às 00:00 dentro da(s) categoria(s): Notícias.
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