17/12/2014
E a luta pela educação continua
Aos 81 anos de idade, Antonio Rodrigues da Silva iniciou mais um mandato na gestão do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro
(Sinpro-Rio). No cargo de primeiro tesoureiro, ele pretende prosseguir com a sua militância política, iniciada em 1953, com seu ingresso no Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Em uma trajetória de mais de 50 anos dedicados à educação, Antonio Rodrigues ilustra, em sua caminhada, a história recente da educação no país. Em seu
currículo estão marcas explícitas das políticas educacionais dos anos chumbo do Regime Militar (1964/1985); e também das lutas pela redemocratização do
país e, mais recentemente, do avanço do capital privado na educação superior.
“O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer. Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20
vezes ‘O Encouraçado Potemkin’ (Sergei Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive
que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ”, revelou o sindicalista.
Desde o final da década de 1970, o educador, que foi um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), milita de forma intensa
no movimento sindical. E, para os dias de hoje, uma de suas propostas é, justamente, resgatar no Sinpro-Rio espaços para a formação política do magistério.
Ao revelar o percurso da vida de Antonio Rodrigues, a FOLHA DIRIGIDA presta uma homenagem a todos os educadores que, a exemplo do primeiro tesoureiro do
Sinpro-Rio, dedicam sua vida à educação do país.
Folha Dirigida – Em que escola o senhor estudou? Como foi o seu processo de formação?
Antonio Rodrigues
– Sou uma pessoa de 81 anos. Minha juventude foi no período pós-guerra. Sou filho de pai comunista e de mãe católica. Sou de Campos
dos Goytacazes. Estudei na Escola Técnica de Campos, o atual Cefet de Campos. Fiz Artes Gráficas. Éramos pequenos proprietários rurais. Meu pai trabalhava na
organização dos trabalhadores de cana-de-açúcar. Ele era do Partido Comunista. E fomos expulsos da terra. Migramos, em 1947, para o Rio de Janeiro. Moramos na
Favela do Esqueleto, que ficava onde funciona o campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Meu pai, na época, tinha cinco filhos e
depois vieram mais dois. Foi um grande choque para todos. Completei meu ensino técnico no Senai, na Rua São Francisco Xavier, em Artes Gráficas. E aí fui
trabalhar na Imprensa Nacional, em 1949, onde fui linotipista. O fato de trabalhar na Imprensa Nacional como gráfico me aproximou da militância. Ingressei em
1953 no Partido Comunista, o “partidão”.
Como e por que o senhor decidiu ser professor?
Na Imprensa Nacional, a vida era muito dura. Posteriormente, em 1957, fiz um concurso para o Instituto de Previdência e Servidores do Estado (Ipase), que
funcionava no Centro do Rio. Entre 1957 e 1960, fui escriturário do Ipase. E aí fui para a Faculdade Nacional de Filosofia (Fnfi), cujos cursos hoje integram
a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela funcionava no Castelo, onde, hoje, está a Embaixada Italiana. Ingressei no curso de Filosofia. Mas mudei
para Geografia em 1961.
Por quê?
Sempre tive interesse pelas questões mundiais. E minha militância política contou muito. Atuava na base do Partido Comunista. E, em 1964, com o Golpe
Militar, fui suspenso por um ano em função do meu envolvimento político. Foi o episódio dos “19 da Fnfi” — uma exclusão de lideranças estudantis. Eu sou um
dos 19 alunos. Todos os outros foram expulsos. Mas, na época, meu filho mais velho, Vinícius Assumpção, que hoje é secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico Solidário, tinha dois anos. Eu era casado. E, por isso, eu fui “apenas” suspenso por um ano. No meu currículo consta em 1964: “suspenso pelo egrégio
Conselho Universitário durante o ano de 1964 por atividades subversivas”. Na Geografia, criamos o “Núcleo de Estudos Geográficos (NEG)”, onde fazíamos a
militância. Terminei em 1967. Nesse período, eu não falava com quase ninguém pois eu comprometia as pessoas. Havia o perigo de as pessoas serem torturadas,
caso tivessem contato comigo. Saí do Ipase e fui para os Correios. Fiz concurso antes do Golpe e tomei posse em 1965. Virei postalista dos Correios.
Trabalhava no Centro, à noite. Em 1967, eu fui para Tinguá, em Nova Iguaçu. Fui criar galinhas para sobreviver. Eu vivia quase que clandestino, com medo.
Dormia nos Correios para não sair à noite. Mas a formação da Fnfi me deu uma consciência crítica, desenvolvida.
Ao longo da Ditadura Militar, o senhor sofreu algum tipo de perseguição?
Sim. Em 1968, fiz estágio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ). Dei aulas como licenciando e fui convidado a ficar
como professor, com as turmas do terceiro ano. Passei a lidar no Cap-UFRJ com alunos envolvidos na Revolução Argelina. Carlos Minc e Alfredo Sirkis foram meus
alunos. E, nessa construção, você não é um simples professor. A escola se transforma em um instrumento de reflexão. O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer.
Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20 vezes “O Encouraçado Potemkin” (Sergei
Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um
colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Aos 81 anos de idade, Antonio Rodrigues da Silva iniciou mais um mandato na gestão do Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro
(Sinpro-Rio). No cargo de primeiro tesoureiro, ele pretende prosseguir com a sua militância política, iniciada em 1953, com seu ingresso no Partido Comunista
Brasileiro (PCB).
Em uma trajetória de mais de 50 anos dedicados à educação, Antonio Rodrigues ilustra, em sua caminhada, a história recente da educação no país. Em seu
currículo estão marcas explícitas das políticas educacionais dos anos chumbo do Regime Militar (1964/1985); e também das lutas pela redemocratização do
país e, mais recentemente, do avanço do capital privado na educação superior.
“O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer. Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20
vezes ‘O Encouraçado Potemkin’ (Sergei Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive
que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ”, revelou o sindicalista.
Desde o final da década de 1970, o educador, que foi um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), milita de forma intensa
no movimento sindical. E, para os dias de hoje, uma de suas propostas é, justamente, resgatar no Sinpro-Rio espaços para a formação política do magistério.
Ao revelar o percurso da vida de Antonio Rodrigues, a FOLHA DIRIGIDA presta uma homenagem a todos os educadores que, a exemplo do primeiro tesoureiro do
Sinpro-Rio, dedicam sua vida à educação do país.
Folha Dirigida – Em que escola o senhor estudou? Como foi o seu processo de formação?
Antonio Rodrigues
– Sou uma pessoa de 81 anos. Minha juventude foi no período pós-guerra. Sou filho de pai comunista e de mãe católica. Sou de Campos
dos Goytacazes. Estudei na Escola Técnica de Campos, o atual Cefet de Campos. Fiz Artes Gráficas. Éramos pequenos proprietários rurais. Meu pai trabalhava na
organização dos trabalhadores de cana-de-açúcar. Ele era do Partido Comunista. E fomos expulsos da terra. Migramos, em 1947, para o Rio de Janeiro. Moramos na
Favela do Esqueleto, que ficava onde funciona o campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Meu pai, na época, tinha cinco filhos e
depois vieram mais dois. Foi um grande choque para todos. Completei meu ensino técnico no Senai, na Rua São Francisco Xavier, em Artes Gráficas. E aí fui
trabalhar na Imprensa Nacional, em 1949, onde fui linotipista. O fato de trabalhar na Imprensa Nacional como gráfico me aproximou da militância. Ingressei em
1953 no Partido Comunista, o “partidão”.
Como e por que o senhor decidiu ser professor?
Na Imprensa Nacional, a vida era muito dura. Posteriormente, em 1957, fiz um concurso para o Instituto de Previdência e Servidores do Estado (Ipase), que
funcionava no Centro do Rio. Entre 1957 e 1960, fui escriturário do Ipase. E aí fui para a Faculdade Nacional de Filosofia (Fnfi), cujos cursos hoje integram
a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela funcionava no Castelo, onde, hoje, está a Embaixada Italiana. Ingressei no curso de Filosofia. Mas mudei
para Geografia em 1961.
Por quê?
Sempre tive interesse pelas questões mundiais. E minha militância política contou muito. Atuava na base do Partido Comunista. E, em 1964, com o Golpe
Militar, fui suspenso por um ano em função do meu envolvimento político. Foi o episódio dos “19 da Fnfi” — uma exclusão de lideranças estudantis. Eu sou um
dos 19 alunos. Todos os outros foram expulsos. Mas, na época, meu filho mais velho, Vinícius Assumpção, que hoje é secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico Solidário, tinha dois anos. Eu era casado. E, por isso, eu fui “apenas” suspenso por um ano. No meu currículo consta em 1964: “suspenso pelo egrégio
Conselho Universitário durante o ano de 1964 por atividades subversivas”. Na Geografia, criamos o “Núcleo de Estudos Geográficos (NEG)”, onde fazíamos a
militância. Terminei em 1967. Nesse período, eu não falava com quase ninguém pois eu comprometia as pessoas. Havia o perigo de as pessoas serem torturadas,
caso tivessem contato comigo. Saí do Ipase e fui para os Correios. Fiz concurso antes do Golpe e tomei posse em 1965. Virei postalista dos Correios.
Trabalhava no Centro, à noite. Em 1967, eu fui para Tinguá, em Nova Iguaçu. Fui criar galinhas para sobreviver. Eu vivia quase que clandestino, com medo.
Dormia nos Correios para não sair à noite. Mas a formação da Fnfi me deu uma consciência crítica, desenvolvida.
Ao longo da Ditadura Militar, o senhor sofreu algum tipo de perseguição?
Sim. Em 1968, fiz estágio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ). Dei aulas como licenciando e fui convidado a ficar
como professor, com as turmas do terceiro ano. Passei a lidar no Cap-UFRJ com alunos envolvidos na Revolução Argelina. Carlos Minc e Alfredo Sirkis foram meus
alunos. E, nessa construção, você não é um simples professor. A escola se transforma em um instrumento de reflexão. O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer.
Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20 vezes “O Encouraçado Potemkin” (Sergei
Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um
colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Em uma trajetória de mais de 50 anos dedicados à educação, Antonio Rodrigues ilustra, em sua caminhada, a história recente da educação no país. Em seu
currículo estão marcas explícitas das políticas educacionais dos anos chumbo do Regime Militar (1964/1985); e também das lutas pela redemocratização do
país e, mais recentemente, do avanço do capital privado na educação superior.
“O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer. Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20
vezes ‘O Encouraçado Potemkin’ (Sergei Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive
que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ”, revelou o sindicalista.
Desde o final da década de 1970, o educador, que foi um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), milita de forma intensa
no movimento sindical. E, para os dias de hoje, uma de suas propostas é, justamente, resgatar no Sinpro-Rio espaços para a formação política do magistério.
Ao revelar o percurso da vida de Antonio Rodrigues, a FOLHA DIRIGIDA presta uma homenagem a todos os educadores que, a exemplo do primeiro tesoureiro do
Sinpro-Rio, dedicam sua vida à educação do país.
“O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer. Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20
vezes ‘O Encouraçado Potemkin’ (Sergei Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive
que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ”, revelou o sindicalista.
Desde o final da década de 1970, o educador, que foi um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), milita de forma intensa
no movimento sindical. E, para os dias de hoje, uma de suas propostas é, justamente, resgatar no Sinpro-Rio espaços para a formação política do magistério.
Ao revelar o percurso da vida de Antonio Rodrigues, a FOLHA DIRIGIDA presta uma homenagem a todos os educadores que, a exemplo do primeiro tesoureiro do
Sinpro-Rio, dedicam sua vida à educação do país.
Desde o final da década de 1970, o educador, que foi um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), milita de forma intensa
no movimento sindical. E, para os dias de hoje, uma de suas propostas é, justamente, resgatar no Sinpro-Rio espaços para a formação política do magistério.
Ao revelar o percurso da vida de Antonio Rodrigues, a FOLHA DIRIGIDA presta uma homenagem a todos os educadores que, a exemplo do primeiro tesoureiro do
Sinpro-Rio, dedicam sua vida à educação do país.
Folha Dirigida – Em que escola o senhor estudou? Como foi o seu processo de formação?
Antonio Rodrigues
– Sou uma pessoa de 81 anos. Minha juventude foi no período pós-guerra. Sou filho de pai comunista e de mãe católica. Sou de Campos
dos Goytacazes. Estudei na Escola Técnica de Campos, o atual Cefet de Campos. Fiz Artes Gráficas. Éramos pequenos proprietários rurais. Meu pai trabalhava na
organização dos trabalhadores de cana-de-açúcar. Ele era do Partido Comunista. E fomos expulsos da terra. Migramos, em 1947, para o Rio de Janeiro. Moramos na
Favela do Esqueleto, que ficava onde funciona o campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Meu pai, na época, tinha cinco filhos e
depois vieram mais dois. Foi um grande choque para todos. Completei meu ensino técnico no Senai, na Rua São Francisco Xavier, em Artes Gráficas. E aí fui
trabalhar na Imprensa Nacional, em 1949, onde fui linotipista. O fato de trabalhar na Imprensa Nacional como gráfico me aproximou da militância. Ingressei em
1953 no Partido Comunista, o “partidão”.
Como e por que o senhor decidiu ser professor?
Na Imprensa Nacional, a vida era muito dura. Posteriormente, em 1957, fiz um concurso para o Instituto de Previdência e Servidores do Estado (Ipase), que
funcionava no Centro do Rio. Entre 1957 e 1960, fui escriturário do Ipase. E aí fui para a Faculdade Nacional de Filosofia (Fnfi), cujos cursos hoje integram
a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela funcionava no Castelo, onde, hoje, está a Embaixada Italiana. Ingressei no curso de Filosofia. Mas mudei
para Geografia em 1961.
Por quê?
Sempre tive interesse pelas questões mundiais. E minha militância política contou muito. Atuava na base do Partido Comunista. E, em 1964, com o Golpe
Militar, fui suspenso por um ano em função do meu envolvimento político. Foi o episódio dos “19 da Fnfi” — uma exclusão de lideranças estudantis. Eu sou um
dos 19 alunos. Todos os outros foram expulsos. Mas, na época, meu filho mais velho, Vinícius Assumpção, que hoje é secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico Solidário, tinha dois anos. Eu era casado. E, por isso, eu fui “apenas” suspenso por um ano. No meu currículo consta em 1964: “suspenso pelo egrégio
Conselho Universitário durante o ano de 1964 por atividades subversivas”. Na Geografia, criamos o “Núcleo de Estudos Geográficos (NEG)”, onde fazíamos a
militância. Terminei em 1967. Nesse período, eu não falava com quase ninguém pois eu comprometia as pessoas. Havia o perigo de as pessoas serem torturadas,
caso tivessem contato comigo. Saí do Ipase e fui para os Correios. Fiz concurso antes do Golpe e tomei posse em 1965. Virei postalista dos Correios.
Trabalhava no Centro, à noite. Em 1967, eu fui para Tinguá, em Nova Iguaçu. Fui criar galinhas para sobreviver. Eu vivia quase que clandestino, com medo.
Dormia nos Correios para não sair à noite. Mas a formação da Fnfi me deu uma consciência crítica, desenvolvida.
Ao longo da Ditadura Militar, o senhor sofreu algum tipo de perseguição?
Sim. Em 1968, fiz estágio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ). Dei aulas como licenciando e fui convidado a ficar
como professor, com as turmas do terceiro ano. Passei a lidar no Cap-UFRJ com alunos envolvidos na Revolução Argelina. Carlos Minc e Alfredo Sirkis foram meus
alunos. E, nessa construção, você não é um simples professor. A escola se transforma em um instrumento de reflexão. O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer.
Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20 vezes “O Encouraçado Potemkin” (Sergei
Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um
colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Como e por que o senhor decidiu ser professor?
Na Imprensa Nacional, a vida era muito dura. Posteriormente, em 1957, fiz um concurso para o Instituto de Previdência e Servidores do Estado (Ipase), que
funcionava no Centro do Rio. Entre 1957 e 1960, fui escriturário do Ipase. E aí fui para a Faculdade Nacional de Filosofia (Fnfi), cujos cursos hoje integram
a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela funcionava no Castelo, onde, hoje, está a Embaixada Italiana. Ingressei no curso de Filosofia. Mas mudei
para Geografia em 1961.
Por quê?
Sempre tive interesse pelas questões mundiais. E minha militância política contou muito. Atuava na base do Partido Comunista. E, em 1964, com o Golpe
Militar, fui suspenso por um ano em função do meu envolvimento político. Foi o episódio dos “19 da Fnfi” — uma exclusão de lideranças estudantis. Eu sou um
dos 19 alunos. Todos os outros foram expulsos. Mas, na época, meu filho mais velho, Vinícius Assumpção, que hoje é secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico Solidário, tinha dois anos. Eu era casado. E, por isso, eu fui “apenas” suspenso por um ano. No meu currículo consta em 1964: “suspenso pelo egrégio
Conselho Universitário durante o ano de 1964 por atividades subversivas”. Na Geografia, criamos o “Núcleo de Estudos Geográficos (NEG)”, onde fazíamos a
militância. Terminei em 1967. Nesse período, eu não falava com quase ninguém pois eu comprometia as pessoas. Havia o perigo de as pessoas serem torturadas,
caso tivessem contato comigo. Saí do Ipase e fui para os Correios. Fiz concurso antes do Golpe e tomei posse em 1965. Virei postalista dos Correios.
Trabalhava no Centro, à noite. Em 1967, eu fui para Tinguá, em Nova Iguaçu. Fui criar galinhas para sobreviver. Eu vivia quase que clandestino, com medo.
Dormia nos Correios para não sair à noite. Mas a formação da Fnfi me deu uma consciência crítica, desenvolvida.
Ao longo da Ditadura Militar, o senhor sofreu algum tipo de perseguição?
Sim. Em 1968, fiz estágio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ). Dei aulas como licenciando e fui convidado a ficar
como professor, com as turmas do terceiro ano. Passei a lidar no Cap-UFRJ com alunos envolvidos na Revolução Argelina. Carlos Minc e Alfredo Sirkis foram meus
alunos. E, nessa construção, você não é um simples professor. A escola se transforma em um instrumento de reflexão. O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer.
Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20 vezes “O Encouraçado Potemkin” (Sergei
Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um
colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Por quê?
Sempre tive interesse pelas questões mundiais. E minha militância política contou muito. Atuava na base do Partido Comunista. E, em 1964, com o Golpe
Militar, fui suspenso por um ano em função do meu envolvimento político. Foi o episódio dos “19 da Fnfi” — uma exclusão de lideranças estudantis. Eu sou um
dos 19 alunos. Todos os outros foram expulsos. Mas, na época, meu filho mais velho, Vinícius Assumpção, que hoje é secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico Solidário, tinha dois anos. Eu era casado. E, por isso, eu fui “apenas” suspenso por um ano. No meu currículo consta em 1964: “suspenso pelo egrégio
Conselho Universitário durante o ano de 1964 por atividades subversivas”. Na Geografia, criamos o “Núcleo de Estudos Geográficos (NEG)”, onde fazíamos a
militância. Terminei em 1967. Nesse período, eu não falava com quase ninguém pois eu comprometia as pessoas. Havia o perigo de as pessoas serem torturadas,
caso tivessem contato comigo. Saí do Ipase e fui para os Correios. Fiz concurso antes do Golpe e tomei posse em 1965. Virei postalista dos Correios.
Trabalhava no Centro, à noite. Em 1967, eu fui para Tinguá, em Nova Iguaçu. Fui criar galinhas para sobreviver. Eu vivia quase que clandestino, com medo.
Dormia nos Correios para não sair à noite. Mas a formação da Fnfi me deu uma consciência crítica, desenvolvida.
Ao longo da Ditadura Militar, o senhor sofreu algum tipo de perseguição?
Sim. Em 1968, fiz estágio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ). Dei aulas como licenciando e fui convidado a ficar
como professor, com as turmas do terceiro ano. Passei a lidar no Cap-UFRJ com alunos envolvidos na Revolução Argelina. Carlos Minc e Alfredo Sirkis foram meus
alunos. E, nessa construção, você não é um simples professor. A escola se transforma em um instrumento de reflexão. O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer.
Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20 vezes “O Encouraçado Potemkin” (Sergei
Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um
colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Ao longo da Ditadura Militar, o senhor sofreu algum tipo de perseguição?
Sim. Em 1968, fiz estágio no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cap-UFRJ). Dei aulas como licenciando e fui convidado a ficar
como professor, com as turmas do terceiro ano. Passei a lidar no Cap-UFRJ com alunos envolvidos na Revolução Argelina. Carlos Minc e Alfredo Sirkis foram meus
alunos. E, nessa construção, você não é um simples professor. A escola se transforma em um instrumento de reflexão. O Cap-UFRJ não era uma escola qualquer.
Era uma escola crítica, que funcionou como um instrumento de mobilização. Havia um cineclube. Passamos mais de 20 vezes “O Encouraçado Potemkin” (Sergei
Eisenstein/1925) para fazer o debate sobre a Revolução Russa. E isso significou, para mim, perda de emprego. Eu tive que abandonar o emprego no Cap-UFRJ, um
colégio federal. Hoje, estaria aposentado pela UFRJ.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Como isso aconteceu?
Eu não fui expulso. Uma vez, dois sujeitos de paletó e gravata chegaram durante a reunião de professores. Eles perguntaram: “O senhor Antônio Rodrigues da
Silva? Quem é ele?”. “Aí, meu colegas falaram: “Ele não está aqui. Não tem vindo trabalhar”. E, eles falaram: “vamos verificar”. E, então, eu fugi. Sai pela
Lagoa. Caminhei até o Corte do Cantagalo, que ainda estava sendo aberto. Isso foi em 1974, no governo do Médici. Fui para Copacabana, peguei um ônibus, depois
outro ônibus e várias conduções até chegar a Nova Iguaçu, onde morava na época. Eu não tinha carro. E nunca mais voltei ao Cap-UFRJ pois tinha medo de ser
preso.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
E o que o senhor fez depois disso?
Em 1975, fui para o Colégio Estadual João Batista de Matos, em Acari. E arrumei emprego na Secretaria de Cultura de Nova Iguaçu. Passei a trabalhar com
manifestações culturais de subúrbio. Trabalhávamos com Folia de Reis, pois a maioria dos moradores de Nova Iguaçu era de migrantes do Norte Fluminense e da
Zona da Mata mineira. Passei a coordenar atividades no “Teatro Arcádia”. Fizemos teatros populares e, paralelamente, a organização social. Criamos o “TEI”,
que é o Teatro do Estudante Iguaçuano. Montamos Nelson Rodrigues. Muitos artistas nos ajudavam. Maria Clara Machado nos cedeu os direitos de “Pluf, o
Fantasminha”. E acabei no Instituto de Educação Rangel Pestana, em Nova Iguaçu, onde fui vice-diretor. A escola virou um centro de debates. Isso foi em 1977,
1978. E, no governo Faria Lima, fui desligado da direção desse colégio com o argumento de que eu estava contaminando o município com as minhas ideias. Ainda
vivíamos com o “gás”, com o “ambiente” da ditadura.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
E como o senhor ingressou no Sinpro-Rio?
Saí do Instituto Rangel Pestana e fui trabalhar no Colégio Estadual André Maurois, no Rio. Em 1981, passei no concurso do Colégio Pedro II. E, em seguida,
em 1982, passei para o Colégio Naval. Trabalhei em muitas instituições particulares, como a Escola Parque, o Colégio Sacré-Coeur de Marie, a Universidade
Santa Úrsula. Fui um dos fundadores do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe), em 1979, onde passei a fazer militância. Fui secretário-geral
do Sepe na gestão de Godofredo Pinto. E, no Sinpro-Rio, ingressei quase concomitantemente, no final da década de 1970, como suplemente do Conselho Fiscal. E,
gradativamente, passei a militar mais intensamente no Sinpro-Rio.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Na década de 1980, as assembleias dos professores reuniram mais de dez mil pessoas. Hoje, muitas vezes, a maioria delas ocorre com apenas dezenas de
profissionais. O que mudou?
Considero que a sociedade está mais individualista. Há uma concepção neoliberal de sociedade. A partir do governo do presidente Lula, o país passou por
mudanças políticas. Mas, a sociedade passou a se constituir em uma concepção individualista. Aquele modelo, pelo qual fui perseguido e demitido por posições
políticas, defendia uma escola que trabalhasse com uma proposta transformadora de sociedade. Para nós, a escola deveria ser um veículo de formação e de
transformação, numa relação dialética. E a concepção neoliberal de sociedade, surgida a partir da década de 1990, resultou em cidadãos mais individualistas. E
isso se refletiu no movimento social. Temos profissionais jovens pulverizados em muitas escolas. Os profissionais inevitavelmente formados por essa escola,
com a Educação Moral e Cívica ou com uma História apagada, foram afetados. O movimento sindical foi incapaz de formar essas pessoas. Acredito que o sindicato
deve ter seminários e cursos de formação política. Por isso, no Sinpro-Rio, temos a Escola do Professor.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
O senhor defende mudanças nas atividades da Escola do Professor?
A Escola do Professor deve ser um centro de pensamento crítico para que o profissional venha para o sindicato para refletir a realidade, para se formar
melhor, ultrapassando os limites de sua formação acadêmica. Hoje, as pessoas pensam primeiro no seu emprego, em melhorar de vida, em ganhar bem. Isso foi
difundido durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC). E o movimento sindical ficou em segundo plano.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
A lógica empresarial contaminou o ambiente das escolas?
Gostaria de separar a educação pública da educação particular. O país vive um momento crucial. As últimas eleições mostraram que as forças progressistas
não estão sendo capazes de mexer na geografia política da educação. Para mim, a educação é um direito e a escola privada deve ser regulada. Hoje, as escolas
privadas são empresas de educação que disputam o mercado, preocupadas em ocupar os melhores lugares do ranking. No Sinpro-Rio somos veementemente contrários
ao ranqueamento. É preciso resistir de forma revolucionária. As escolas, hoje, são empresas de educação, ligadas ao mercado e que ganham muito. Na educação
superior, há empresas multinacionais. Defendemos a nacionalização do ensino superior pois existem empresas de fora ingressando nesse mercado. Às vezes, elas
são camufladas com nomes nacionais. Mas há grupos estrangeiros que injetam dinheiro em várias instituições, numa prática que revela um conglomerado de grandes
corporações. E essa força política se contrapõe à escola pública. Precisamos de uma sociedade mais justa, mais democrática, com o poder popular.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Hoje em dia, faltam professores de Geografia. O que têm afastado os jovens dessa carreira?
Acredito que isso depende da região. A Geografia tem o contraditório. Nas grandes universidades, como a UFRJ, a Universidade Federal Fluminense (UFF), o
aluno sai geógrafo, ele tem outra relação de emprego. O magistério não está competindo, oferecendo vantagens para esses jovens. Estamos perdendo os geógrafos
para a indústria do Petróleo. Precisamos discutir a formação e a valorização do magistério. Hoje, o profissional bem formado tem oferta de empregos. E esse
jovem não vai cair no magistério.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Como o senhor avalia o ensino de Geografia nos dias atuais? O que, na sua avaliação, precisa mudar?
Hoje, existe uma outra Geografia. As universidades precisam mudar o seu currículo. Não temos mais a Geografia da paisagem. Mas precisamos discutir o
espaço, o território, o lugar, a questão ambiental. Os currículos da UFF e da UFRJ são bons. Mas essas universidades formam poucos profissionais para grande
demanda. Toda a questão da falta de professores de Física, Química, Matemática e Geografia, na verdade, cai na questão salarial. No Colégio Pedro II não
faltam professores de Geografia. A cada vez que se abre um concurso, há muitos candidatos. Isso ocorre porque lá a remuneração é boa, existe um plano de
cargos e salários, a carreira é atrativa, condizente com o nível de formação. E a escola privada se beneficia dessa situação, pois, com salários maiores,
recebe os melhores professores.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
Ao longo de mais de 50 anos de sua trajetória profissional, o que melhorou e o que piorou na carreira do magistério?
O que melhorou foi o nível de formação dos professores. Hoje, temos um profissional muito mais qualificado, apesar de todas as deficiências. Há mais
oportunidades, com políticas públicas de pós-graduação. Todo professor deve ter curso superior para lecionar, pois defendemos que ele deve ser um profissional
de nível superior. A educação exige mais; hoje, o mal formado tem pouco espaço. O que piorou mesmo foi a valorização do magistério. O professor é um
profissional com prestígio, ainda. Mas isso vem sendo degradado paulatinamente. É preciso que o discurso do prestígio corresponda a uma remuneração adequada.
Na rede privada, no primeiro segmento do ensino fundamental e na educação infantil, o piso ainda é baixo. O piso no Rio de Janeiro é de R$800 para esse
segmento. Resta, agora, a mobilização dos professores para exigirem a remuneração correspondente ao seu nível de formação.
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Este post foi publicado em
17/12/2014 às
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