Quais os critérios da Vida Boa? Nada nos angustia e nos mobiliza mais do que esta questão. E, quando cessa a angústia, a dinâmica vital aprisiona-se aos mecanismos imediatos do hábito e do real. A rigor, esse é o ciclo inevitável da história individual e coletiva. Definimos, antes, os nossos sentidos existenciais, os nossos critérios do bem e do mal, e passamos a viver objetivamente para eles como se nos tivessem sido dados para sempre. De repente, visualizamos a possibilidade de nos experimentar em novos modos de ser e de existir, e tudo recomeça…
São a dinâmica e a estática da vida humana que se expressam, diferentes a cada época, no curso da história. Redirecionamos o fluxo das nossas vidas em busca de novos padrões de felicidade, depois nos alienamos a eles por um tempo indeterminado. Não que isso seja bom ou ruim: é apenas a condição da nossa historicidade e da nossa realidade.
Longe de oferecer um receituário da Vida Boa, este livro tenta demonstrar, na esteira de uma determinada tradição histórico-filosófica, que a relação humana com o bem e com a felicidade é, ao mesmo tempo, a questão-chave da ética e da história. E mais. Pretende ainda propor que – longe de qualquer imposição natural ou divina – respondemos sempre a essa questão na condição de sujeitos livres e criativos.
Se, de fato, a vida humana carece de um sentido prévio, então estamos liberados para imaginar uma finalidade qualquer, para elegê-la como critério do bem e objeto de desejo e, em seguida, adotá-la como fundamento do nosso ser e do nosso existir concretos. Tudo transcorre assim, na vida e na história, sob o estímulo dessa luta incessante do sujeito para criar um sentido e realizá-lo no mundo humano.
Nelson Levy
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Este post foi publicado em
08/11/2017 às
10:49
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