Lançamento de livro sobre Bolsonarismo lota Espaço Cultural Paulo Freire

Na noite do dia 22 de agosto, o Espaço Cultural Paulo Freire recebeu o lançamento do livro “Bolsonarismo: da guerra cultural ao terrorismo doméstico”, onde o autor, o professor da UERJ João Cezar de Castro Rocha, aborda a retórica do ódio e a promoção da dissonância cognitiva coletiva através dos movimentos de extrema direita.

“Por um lado, o bolsonarismo extrai suas técnicas de manipulação de um contexto que não é apenas brasileiro. Por outro, o movimento toca em mazelas e traz à tona algumas das piores características da formação social brasileira, se tornando, verdadeiramente, o retorno dos recalcados”, afirmou o autor, em entrevista ao Sinpro-Rio. O livro – imperdível – já está disponível para venda nas principais livrarias do Rio de Janeiro e também no site da Amazon.

Sinpro-Rio: “Como você vê o avanço da extrema direita no Brasil e no mundo?”

Prof. João Cezar de Castro Rocha: É o fenômeno político mais importante do século XXI. A extrema direita avança em todo o mundo, e no Brasil também, com uma combinação muito hábil da manipulação do universo digital, da ocupação das redes sociais e da transformação da política em um modelo de negócio. Esses três fatores têm proporcionado à extrema direita, nessas primeiras duas décadas, vitórias surpreendentes no campo da democracia. É difícil dizê-lo, mas é importante reconhecer: a extrema direita vence eleições livres e democráticas, porque aprendeu a seduzir corações e mentes. E precisamos entender isso para conseguir reagir.

Sinpro-Rio: “E o que o professor acredita que tenha aberto espaço para o movimento bolsonarista aqui no Brasil, especificamente?”

Prof. João Cezar: De um lado o movimento mais amplo, transnacional, da extrema direita. O bolsonarismo extrai suas técnicas de manipulação de um contexto que não é apenas brasileiro. De outro lado, o movimento toca em mazelas e traz à tona algumas das piores características da formação social brasileira, se tornando, verdadeiramente, o “retorno dos recalcados”: o patrão que manteve a mentalidade escravocrata e agora não tem mais pudor de dizer que trabalhador não tem direitos; é a pessoa que sempre defendeu uma política violenta de extermínio do pobre, do outro, do negro, da mulher, da pessoa trans, do indígena… o bolsonarismo permitiu que essas pessoas retornassem. A força dele consiste em se alimentar do movimento transnacional com algumas dessas raízes brasileiras.

Sinpro-Rio: “Na sua visão, qual foi o papel da mídia hegemônica para a eleição e manutenção do movimento bolsonarista?”

Prof. João Cezar: Um papel muito forte e pouco analisado. A extrema direita, no mundo inteiro, não existiria se não houvesse uma combinação entre o que chamo de midiosfera extremista, que é um ecossistema de desinformação deliberada que produz dissonância cognitiva coletiva; e um espaço da mídia tradicional que apoia o avanço da extrema direita. No Brasil, temos uma conhecida emissora/rádio, nos Estados Unidos, temos a Fox News.  Sem os veículos tradicionais, a extrema direita não teria a força que alcançou.

Sinpro-Rio: “O professor enxerga perspectivas para nos livrarmos da cultura do ódio?”

Prof. João Cezar:  Sim, há perspectivas! A extrema direita é hábil, forte, venceu eleições significativas, mas em novembro de 2020, sofreu uma derrota enorme com a vitória do Joe Biden nos Estados Unidos, e, em outubro de 2022, apesar de toda a utilização criminosa do aparelho do Estado, Bolsonaro foi derrotado. Em ambos os casos, a eleição foi muito apertada, o que é um alerta, mas também é uma esperança: é possível derrotá-los reforçando a necessidade de justiça social! Devemos reconhecer que, em muitos casos, as pessoas que demonstram desapreço pela democracia têm razões objetivas para fazê-lo. No Brasil, para uma parte considerável da população, a democracia é antes um exercício formal do que uma prática cotidiana. Aumentando a justiça social, investindo na prática da democracia, investindo na Educação e em formas alternativas de mídia para se contrapor à midiosfera extremista podemos vencer a extrema direita.

Sinpro-Rio: “O que mais poderia salientar sobre seu livro?”

Prof. João Cezar: O livro é uma tentativa de compreender a metamorfose terrível que aconteceu com o bolsonarismo, que principia em 2018 como guerra cultural, em 2020 e 2021 adquire, paulatinamente, o caráter de seita religiosa, e, a partir de 2021, se transforma no que eu chamo de terrorismo doméstico. Com a derrota de Bolsonaro nas urnas, a extrema direita tende a partir para a violência física. Precisamos estar alertas, porque não pode haver nenhuma anistia e não podemos exitar na punição dos golpistas, sempre dentro das regras democráticas.

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Este post foi publicado em 23/08/2023 às 11:01 dentro da(s) categoria(s): Notícias.
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